11 novembro 2006


O atalho

Quando o Brasil se interiorizou pela força do ouro, da ganância e do desdouro, uma coisa ficou clara. Era a de quem podia e quem não podia regressar. Parecia com um naufrágio. A idéia era ficar à tona. Enquanto náufragos, os interiorizados, sentiam saudade da metrópole. Essa sensação arquetipica passou geneticamente pelas gerações. Houve vergonhas, traições e temores. Horrores. Mas é genético. É da nossa programação cultura que, se for para naufragar, que seja em Copacabana. É como se o culpado voltasse à cena do crime. Assim é que todos os velhos brasileiros da atualidade gostariam de ser aposentados em Copacabana. Ah, Copacabana! Quantas mentiras, quantos crimes ecológicos, quanta ilusão! Chega a ser pornográfica a idéia de Copacabana nas mentes enfurnadas e enfumaçadas do interior brasileiro. Tergiversam, desconversam, tremem e se recompõem, mas no meio da bruma, lá está o farol genético e indelével de Copacabana a guiar náufragos cegos rumo ao sonho tosco, que nem sequer sabem sonhar, pois que ao naufrago não é dado ter lastro. Não é permitido pisar, pois não tem chão. Pela distancia estabelece-se a ignorância, daí o rompante e a prepotência. Até a morte é escamoteada na vã busca. Ai de nós, goianos excrescentes, quando não sabemos de nós, quando não reconhecemos o nosso chão, quando não valorizamos o nosso fundo de quintal.
Viva o atalho!

O atalho de que falo não é um “pulo do gato”. É uma estrada estreita e solitária que vai dar no panteão que todos temos no peito. É profunda solidariedade e humildade perante nós mesmos. Pois o desrespeito arrasa a auto estima e faz com que vivamos como zumbis desterrados a arrotar caviar na esteira dos acontecimentos já acontecidos em outros povos e lugares...
O atalho de que falo e que nos levará direto a nós mesmos, nos fará donos legítimos até das riquezas mais óbvias como Amazônia, biodiesel, culturas Ge, etc...
O atalho nos fará compreender a UDN, o Diogo Mainardi, e até a privatização de nossas praias antes que aconteça. O atalho não é estar entricheirado ao rés do chão armado de uma boa zarabatana!
É compreensão mesmo. É confiança ao invés de esperança, é assumir responsabilidades de foro intimo, é não ter sigilo a ser quebrado, é andar de pé no chão mas de cara e coração limpos.
É comer feijão e arrotar biodiesel, é transportar para dentro de si todos os deuses, degluti-los e vomitar amor, adubo do novo homem!
Você já notou que o templo de Angkor é a mãe da Sagrada Família e do Art decó? E que a Bauhaus e o dodecafônico vieram direto da China de Marco Pólo? E que a semana de 22 foi engendrada lá por volta de 1900 nas fronteiras da universidade de “Heil Del Berg”? Que Brasília é a utopia do século XIX?
Hora, gente. Ó Xente! Ainda vamos ser modernos?
De novo?
Não!
Moderno é o Vietnã atual...
Queiramos ser clássicos como os nossos índios! Só assim seremos importantes como serão os chineses e os hindus do futuro.


Rui
ps é melhor falar bobagens do que ser mudo.
é melhor ouvir bobagens do que ser surdo.

16 setembro 2006

Exposição A Epopéia de Brasília no aeroporto de Confins em Belo Horizonte
Mercedes Urquiza fazendo o discurso na abertura
O Superintendente da Infraero, Mercedes Urquiza, Nazareth e Rui Faquini

Em nossa viagem para Belo Horizonte vimos essa plantação de trigo e extensos algodoais




07 setembro 2006


Araguaia, setembro 2006



A competição




No acampamento






No rio...




A proteção salvadora das barracas
A chuva vem chegando!

Ludovico preocupado com a canoa que não chegou

Araguaia 2006

Aqui sentada escrevendo no computador, fico pensando se fui mesmo ao Araguaia ou se foi um sonho. Quando definimos uma data para fazer nosso passeio de canoas a remo descendo o rio, e isso aconteceu há umas três semanas atrás, inicia-se uma excitação que envolve a formação do grupo, definir e fazer as compras, providenciar as tralhas de acampamento, canoas, carros, horários, e assim, vão se tecendo planejamentos até chegar o grande dia de por o pé na estrada, ou melhor no rio.

Na terça-feira da semana passada, pegamos o reboque alugado no final da W3 Norte e colocamos duas canoas em cima do Land Rover. Passamos pela Feira dos Importados e não encontramos o saco estanque para proteger os equipamentos. Pegamos as tralhas do Ludovico e do Ricardo em suas respectivas casas. Fizemos a grande compra com o Alexandre na quarta-feira e enchemos o reboque e o carro. Na quinta-feira cedo saímos eu, Rui e Bismarque no rumo de Pirenópolis, parando em Alexânia para comprar lingüiças.

Em Piri, trocamos os butijõezinhos de gás e o Fabão nos ajudou a colocar as outras duas canoas por cima do reboque. Alcançamos a tenebrosa Belém Brasília ás duas da tarde e resolvemos passar por Uruana ao invés de entrar em Jaraguá. Pegamos um trecho de terra antes de alcançar Itapuranga e outro de uns vinte quilômetros passando por uma localidade chamada Caiçara. Faltando um quilômetro para chegar no asfalto que nos leva a Aruanã, a roda do reboque caiu no buraco de uma velha ponte de madeira, quebrando o eixo. Tínhamos que agir rápido, pois já estava escurecendo. Deixamos o Bismarque cuidando do reboque e fomos até Faina, vinte e dois quilômetros adiante conseguir um socorro. Após três horas de reparos, alcançamos Aruanã as 10 e meia da noite.

Nos encontramos com Lenora, Frederico, Alexandre e Kazuo e retomamos a animação no bar Scriptorium. Na manhã seguinte, o grande dia de entrar no rio, acordamos meio sem saber por onde começar. Fomos para o guarda barcos do Washington e no amplo estacionamento, soltamos os reboques e fomos fazer as ultimas compras.

Para quem não conhece Aruanã, vou tentar descrever um pouco uma determinada esquina, que de um lado tem uma espécie de mercadinho/bazar tem de tudo, um pouco pra cá tem a padaria de tomar o café da manhã, tem a farmácia de comprar o óleo de babaçu, única proteção eficaz contra os porlvinhas (aqueles mosquitinhos minúsculos que atacam em série e aos montes de uma vez), atravessando a rua tem o posto de combustível onde se compra o gelo, do outro lado tem o supermercado, onde se compra as últimas coisas que faltaram e novamente atravessando a rua tem o Verdurão, onde compramos as coisas frescas. Em geral, ficamos zonzos andando de um lado para o outro, num calor esmagador até que alguém sábio grita VAMBORA!

Saindo dessa letargia, voltamos para o guarda barcos. Chegam também Marília, Ludovico, Ricardo e Sávio. Estendemos uma grande lona no chão e começamos a espalhar e a juntar, caixas de vinhos, caixas de mantimentos, caixas térmicas, frutas, embalagens de cerveja e refrigerante, panelas, lampiões, fogões, butijões, e toda sorte de sacolas, mochilas, sacos de dormir, barracas, bancos, cadeiras e remos com a intenção aparentemente improvável de colocar tudo aquilo em oito canoas.

Cinco canoas e seus ocupantes já chegaram, e começamos por elas. Acondicionamos as barras de gelo reserva nas grandes caixas de isopor, distribuímos as caixas pelos barcos e por cima delas, toda a tralha bem apertada com extensores elásticos. Duas canoas, a do Ludovico e do Sávio, estão para chegar a qualquer momento, vindas no caminhão que transporta bebidas de Goiânia para Aruanã. Marcelo e Michelle também estão chegando.

As cinco canoas prontas são transportadas para a beira do rio, embarcamos e finalmente a gostosa sensação de estar na água. Vamos remando devagarzinho, nos comunicando uns com outros através de radinhos de pilha. Aos poucos, Aruanã com suas construções feias e seus barulhos vão ficando para trás. Passando pelo travessão, Alexandre e Kazuo insistem em parar para pescar. Na primeira praia aprazível paramos para o banho. O primeiro mergulho – com licença, Araguaia! – e já, já estamos renovados e bem dispostos.

Sabemos que não podemos ir longe, por causa dos companheiros que ficaram para trás, mas somente depois do acampamento do Trick encontramos um rancho desocupado. Entre um banho e outro, fomos descarregando as canoas, armando barracas e preparando a cozinha. No meio da tarde o vento virou. Quando dá vento oeste na região central do Brasil, nos meses secos de maio a setembro, é chuva na certa. Nada das canoas do Ludovico e do Sávio que continuam esperando em Aruanã. O Rui começa a passar rádios insistentes para o Alexandre e o Kazuo, que ficaram para trás pescando, se juntarem a nós. Chegam Marcelo e Michelle. A ventania nos obriga a sair correndo atrás da nossa barraca que saiu rolando pela areia. Felizmente o acampamento tinha proteção para barracas, um abrigo construído de bambu e palha, amenizando tanto o sol, como o vento.

Quando não deu mais para esperar, o Ludovico e o Sávio contrataram um barco a motor e se juntaram a nós, deixando a função das canoas para o dia seguinte. Depois de muita insistência, Alexandre e Kazuo também chegaram. Finalmente estávamos todos juntos e a Marília pode servir a costelinha de porco preparada ainda em Brasília, com cuscuz. O vento cedeu e tivemos uma noite tranqüila.

De manhã, o farto café começa bem cedinho com rodadas de chimarrão, passando pelas frutas frescas, pães, queijos, sucos e champagne, omelete com bacon e o café Sabiá produzido pelo Sávio. Em seguida o barco a motor veio pegar o Ludovico, Sávio, Alexandre e Ricardo para irem resgatar as duas canoas que finalmente chegaram em Aruanã. Kazuo e Rui saíram para pescar e o restante ficou enzonando por ali mesmo. Banhos, rede, conversas, cerveja, vinho e uma baita discussão sobre bacalhau fresco e salgado que não deu em nada. No meio da tarde chegaram remadores e pescadores e finalmente estávamos com as oito canoas e seus treze passageiros.

Novamente o vento voltou a virar e achamos prudente ficar ali mesmo, naquele acampamento seguro mais uma noite. Os pescadores conseguiram pegar mandubés e piaus que foram limpos e reservados para o dia seguinte. À medida que a tarde ia avançando, a ventania ia aumentando. Tivemos que prender uma lona na lateral do rancho para não comer com areia. A janta foi filé com macarrão ao molho de tomates e azeitonas. Choveu a noite sem causar maiores estragos.

Domingo amanheceu prometendo um belo dia. Animados, tomamos café, desmontamos o acampamento, embarcamos e lá fomos nós, ora remando, ora juntando as canoas e descendo lentamente, somente corrigindo o rumo aqui e ali, evitando os galhos e tocos semi submersos.

Nossos pescadores fanáticos não esperaram que chegássemos ao próximo acampamento. Lançaram suas iscas enquanto seguimos em busca da melhor praia com um rancho desocupado para passarmos a noite. E em boa hora encontramos um belo rancho bem pertinho da água num lugar chamado Mata Coral. Desembarcamos as tralhas e começamos os preparativos para fritar os peixes enquanto outros armavam suas barracas. Dessa vez o vento não virou e teríamos um belo por do sol.

Estávamos nessa função quando nossos pescadores chegaram nos contando que a canoa virou. A linha prendeu, um toco traiçoeiro e tudo pra dentro d’água num segundo. Do coletivo foi-se o café da manhã do dia seguinte e algumas garrafas de vinho. Nada de grave. Das coisas pessoais o prejuízo foi maior, mas felizmente nenhum machucado, nenhum sobressalto extra. O belo e majestoso Araguaia, aparentemente pacífico em sua formosa horizontalidade não revela suas armadilhas fatais.

No nosso último acampamento, ainda brincamos de competição, curtimos um belo por do sol, comemos os peixes fritos deliciosos e mais tarde preparamos um panelão de carreteiro que foi inteiramente devorado. Noite amena, manhã friazinha com pouco vento. O suficiente para espantar os mosquitos. Estávamos praticamente com tudo pronto quando chegaram os dois barcos grandes que nos levaram de volta a Aruanã. Nessa volta de motor sempre ficamos espantados com o tanto que remamos.

Recarregar os carros é bem mais rápido porque já consumimos quase tudo. Os mais apressados vão direto para Goiânia ou Brasília. Nós voltamos calmamente passando pela mesma ponte esburacada, pela indefectível Belém Brasília, por Pirenópolis, onde descarregamos as canoas e pousamos, pela novíssima estrada que liga Planalmira a Abadiânia, pela interminável obra de duplicação da BR 060 e finalmente estamos em casa.

Ainda bem que temos algumas fotos que nos garantem que estivemos lá.
Não foi um sonho.


Setembro, 2006
Liana F.

09 agosto 2006

foto Tiago Faquini
Iniciando o blog de Rui Faquini e Liana

Rui recebendo a comenda do Anhaguera em 24.07.2006