06 junho 2009






O Último Olhar sobre Serra da Mesa


No teatro de Serra da Mesa me sentia no trono daquele grande coliseu, vendo as faces dos titãs que me diziam: “Ave Rui, os que vão ser inundados te saúdam”.
A água do Tocantins que corria rápida em movimentos luxuriantes era uma entidade viva que além dos muitos prodígios, dizia seu João – o barqueiro , também comia gente...
Enquanto a miríade de seres vivos dava o ar de sua graça, tombava com grande resistência um belo jatobá justificando o aproveitamento, para o bem do homem de tão assustador empreendimento!
Coletei um pouco da água da foz do córrego do Boa Nova sem nenhuma intenção, mas com grande emoção. Acho que o que senti ali era puro misticismo. Via naqueles totens, dolmens e máscaras as almas penadas dos mártires dos sucessivos massacres dos Ava-canoeiros perpetrados nessas redondezas.
Ali, o canto dos pássaros não é inocente. O pio de um bem-te-vi soa como um alarme. Às treze em ponto a explosão. A rocha de granito grita ribombos histéricos que soam como rasgos de setas invisíveis por entre tudo e sem o menor respeito!
O pássaro, que na primeira explosão terá se assustado, hoje canta fingindo indiferença. Ou será choro o canto da cotovia? Como ninguém sabia?
Como é que sendo hoje o dia aprazado para o fechamento das comportas de Serra da Mesa não há uma só menção em toda a mídia? Como é possível que tamanhas e tantas explosões não sejam ouvidas no mundo inteiro? Estamos na internet e nada!
Esse é o mais estrondoso silêncio que já ouvi.

Rui Faquini
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