O Último Olhar sobre Serra da Mesa No teatro de Serra da Mesa me sentia no trono daquele grande coliseu, vendo as faces dos titãs que me diziam: “Ave Rui, os que vão ser inundados te saúdam”. A água do Tocantins que corria rápida em movimentos luxuriantes era uma entidade viva que além dos muitos prodígios, dizia seu João – o barqueiro , também comia gente... Enquanto a miríade de seres vivos dava o ar de sua graça, tombava com grande resistência um belo jatobá justificando o aproveitamento, para o bem do homem de tão assustador empreendimento! Coletei um pouco da água da foz do córrego do Boa Nova sem nenhuma intenção, mas com grande emoção. Acho que o que senti ali era puro misticismo. Via naqueles totens, dolmens e máscaras as almas penadas dos mártires dos sucessivos massacres dos Ava-canoeiros perpetrados nessas redondezas. Ali, o canto dos pássaros não é inocente. O pio de um bem-te-vi soa como um alarme. Às treze em ponto a explosão. A rocha de granito grita ribombos histéricos que soam como rasgos de setas invisíveis por entre tudo e sem o menor respeito! O pássaro, que na primeira explosão terá se assustado, hoje canta fingindo indiferença. Ou será choro o canto da cotovia? Como ninguém sabia? Como é que sendo hoje o dia aprazado para o fechamento das comportas de Serra da Mesa não há uma só menção em toda a mídia? Como é possível que tamanhas e tantas explosões não sejam ouvidas no mundo inteiro? Estamos na internet e nada! Esse é o mais estrondoso silêncio que já ouvi. Rui Faquini